Por Wênia Bandeira

Quando João Pedro dos Santos, de 15 Anos, tinha apenas dois anos de idade, sua vida começou a mudar. As dificuldades se iniciaram com a primeira convulsão e os problemas se agravam com o decorrer do tempo.

Aos seis anos, ele foi diagnosticado com epilepsia de difícil controle. O menino passou a utilizar várias medicações, mas não faziam efeito e os sintomas continuaram com crises diárias, muitas vezes multiplicadas em um único dia.

A mãe do garoto, Carla Santos, lembrou com tristeza o que aconteceu na vida da criança. João Pedro teve indicação de cirurgia em 2020 e não passou pelo procedimento por ocasião da época em que a operação foi marcada.

“Foram muitas internações por conta das convulsões, os médicos já não sabiam mais o que fazer pois as medicações não faziam efeito algum, o neurocirurgião optou por uma cirurgia no crânio, mas não me garantiu nada que ele poderia melhorar. Estava tudo certo para fazerem a cirurgia, mas aí entrou a pandemia e eles adiaram”, contou.

João Pedro passou a ter cada vez mais convulsões. Carla Santos assistiu a uma reportagem de uma mãe no programa Fantástico, da Rede Globo, falando sobre a Cannabis medicinal como tratamento da filha dela e sugeriu ao neurologista que acompanhava o filho. O médico não acreditou em resultados, mas mesmo assim prescreveu.

“Eu consegui comprar o óleo importado que, por sinal, é muito caro. Eu não tinha condições de manter o tratamento. Uma amiga conhecia a Associação Salvar e foi através dela que consegui fazer o tratamento adequado e de uso contínuo até hoje. Graças a Deus e a Salvar, meu filho teve uma melhora de 90% das convulsões”, falou.

Antes da Cannabis, o menino tinha convulsões todos os dias por várias vezes e só melhorava quando era levado para a urgência de um hospital. Hoje, com o tratamento, ele tem uma ou duas vezes ao mês, dependendo do dia-dia que tiver.

“Antes ele não estudava, eu não saia com ele, hoje ele estuda, brinca eu posso levá-lo à piscina, coisa que eu não fazia de modo algum. Eu não consigo nem imaginar como seria se precisasse parar o tratamento. Quando aconteceu de fechar a Associação eu chorei tanto, porquê só me vinha as lembranças de sofrimento com ele nas urgência, era muito sofrimento, até eu estava depressiva por que não vivíamos, a gente vegetava. Uma mãe ver seu filho em uma situação na qual não pode fazer absolutamente nada é doloroso”, disse Carla.

João Pedro é um dos 1.463 associados. Dentro deste total, estão 28 pessoas que são isentas do custeio do óleo à base de Cannabis. Todos estes associados, cada um com sua história, podem parar de receber o tratamento em breve.

Com a perca das 363 plantas devido ao processo judicial e os bloqueios realizados, a Salvar pode manter o fornecimento de produto de CBD para os associados até outubro de 2024. Já para os paciente da cota social, os produtos começaram a faltar no último dia 05 de agosto, interrompendo o tratamento de pessoas sem condições de arcar financeiramente com as mensalidades e produtos. A Salvar está mantendo o fornecimento dos produtos para 12 dos cotistas, já que casos mais graves. Por mês, para a cota social são dispensados 29 produtos, totalizando 354 ao ano.

Entre todos os associados, estão pessoas com epilepsia, autismo, síndromes raras, fibromialgia, dor crônica, câncer, Mal de Parkinson, ansiedade generalizada, depressão, síndrome do pânico, insônia e Mal de Alzheimer. Antes da autorização judicial para cultivo e produção, em torno de quatro pessoas eram atendidas por dia no acolhimento, o que aumentou para dez a 15 pacientes diariamente.

O processo judicial interrompeu muitos serviços prestados pela Associação. De forma equivocada, os prestadores de serviço foram levados pela polícia e precisam passar muito tempo, injustamente, presos.

“A perca dolosa do prazo do recurso por parte do advogado que defendia a Associação e a denúncia caluniosa premeditada do mesmo fez com que a equipe de funcionários e prestadores de serviço fosse detida durante 26 dias no presidio de segurança máxima sob acusação de tráfico de drogas”, contou o presidente da Salvar, Paulo Reis.

O processo judicial ainda interrompeu o andamento dos trabalhos internos, a exemplo da colheita do que já havia sido plantado para produzir os óleos necessários para o atendimento. As plantas tiveram problemas de origem botânica, que as inviabilizaram pelo atraso na colheita.

“Muitos associados que estavam em lista de espera não conseguiram acesso ao produto no tempo determinado, que havíamos definido. Como a gente tinha essa colheita para fazer e fabricar produtos, teríamos um aumento na capacidade de produção e, consequentemente, aumento da disponibilidade. Temos em torno de 500 associados esperando em fila para ter acesso aos produtos”, acrescentou o presidente.

São então centenas de pessoas sem acesso ao tratamento médico que precisam. Vale lembrar que a Constituição Federal, Lei Maior deste país, diz em diversos momentos que a saúde é primordial e de suma importância para todos os cidadãos.

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